domingo, 14 de setembro de 2008

Pierre Fatumbi Verger



Verger, Baiano por opção!
Quem, em sã consciência, ousaria não chamar Pierre Verger de gente da Bahia? Poucos, podem ter certeza. Fotógrafo e antropólogo renomado, Pierre Fatumbi Verger escolheu a Bahia como sua verdadeira casa, após andanças entre os mais diversos países. A Bahia, amada por Verger como poucos nativos a amam, acolheu o seu filho ilustre com grande carinho e forneceu material vivo para seus diversos estudos. Especialmente após a sua escolha por fixar residência em Salvador, Verger passou a analisar as relações entre Bahia e África, o que rendeu diversos estudos e fotografias, comprovando as semelhanças entre os dois lados do Atlântico.
“Fiz assim numerosas idas e vindas entre a Bahia e a África. Amo quase igualmente as duas margens do Atlântico, com um pouco mais de ternura, entretanto, pela boa terra da Bahia”

Nascido burguês
No dia 4 de novembro de 1902, na cidade de Paris, nascia Pierre Verger, filho de abastada família burguesa, de origem belga e alemã. Sua vida seguia um modelo convencional até os 30 anos, ainda que não concordasse com os levianos valores burgueses. Seu pai, Leopold Verger, era o proprietário de uma empresa tipográfica, mas o jovem Pierre nunca se sentiu atraído pelos negócios da família. Seu pai morreu cedo e sua mãe era a única pessoa que o segurava em sua vida convencional. Aprendeu os segredos da fotografia com o amigo Pierre Boucher e logo descobriu a sua verdadeira paixão. Em 1932, logo após a morte de sua mãe, decidiu iniciar sua vida de viajante solitário, empunhando sua câmera Rolleiflex e andando pelos quatro cantos do globo. Passou por países como Estados Unidos, Rússia Japão, Polinésia, Filipinas, China, entre outros, trabalhando para jornais e agências de fotografias européias. Desde esta época, não considerava o ato de tirar fotos e captar emoções uma profissão e sim uma diversão, um modo de vida. Tirava do ofício apenas o suficiente para sobreviver, não se preocupando em acumular riquezas. Em 1936, visitou pela primeira vez a África e logo se apaixonou pela história e vibração daquele povo.
"A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes”
Bahia, a boa terra
Em 1946, Verger veio de navio à Bahia. Ouvira falar deste místico estado por publicações de Jorge Amado e de longe já se interessara. Ao chegar, logo sentiu a pulsação da terra que se tornaria seu lar. Não resistiu e tirou a sua primeira foto ainda do navio, impressionado com a luminosidade da Baía de Todos os Santos. Até 1979, viveu em travessias entre Bahia e África, com esporádicas temporadas na França, onde se tornou Doutor em Estudos Africanos, pela Sorbonne. Em 1960, adquiriu sua primeira casa em Salvador, residência que ocupava no ínterim de suas andanças e onde viveu ate os últimos anos de sua vida. Hoje, a casa simples na Vila América é a sede da fundação que leva seu nome e que mantém aceso o seu ideal de vida, guardando todo o seu acervo. Em uma das muitas correspondências que trocava com amigos, Verger, aflito, afirma estar aburguesando-se perigosamente, pois tinha adquirido uma caixa postal. A Bahia fisgou seu coração andarilho e cada vez mais barganhou aquele nobre coração para si.
“Tenho saudades da Bahia. Ando às vezes pelas ruas de Paris gritando: Bahia! Bahia! Bahia!”
Fotografia humana
As 62 mil fotografias tiradas por Verger durante sua vida, todas em negativos catalogados na Fundação Pierre Verger, impressionam pela capacidade de transmitir toda a essência e emoção do retratado. A grande maioria das suas fotos mostrava o povo negro do Brasil e da África e outras tantas retratava manifestações populares e típicas. A máquina Rolleiflex, que usou durante toda a vida, não precisava ser levada ao rosto para captar as imagens, certamente ajudando no contato olho a olho com o personagem a ser fotografado. Verger sempre demonstrou um interesse imenso por pessoas de diversas culturas e tinha o poder de deixá-las à vontade. Dizia sempre que detestava fazer perguntas, pois perguntas são sempre mal feitas. Elas induzem a resposta. O segredo é ouvir, pacientemente. Chegou a questionar, em certo momento, o seu trabalho de antropólogo, pois achava que contando as histórias que aprendera espontaneamente para a burguesia, poderia induzir o pensamento desses outros sujeitos, deturpando seus ideais.
“Estou de volta a esta velha Bahia de todos os cheiros, bem contente de encontrar os velhos amigos e os velhos costumes, com o mesmo alívio que se tem em calçar sapatos velhos depois de novos e estreitos, como foram para mim as poucas semanas na Europa”
Ativo participante do candomblé
Na África, Verger teve o primeiro contanto com a cultura iorubá, mas foi na Bahia que o fotógrafo apaixonou-se pelo Candomblé. O nome Fatumbi foi adquirido em uma de suas viagens a Ketu, no Benim, dado por Ifá, culto da divinação neste local. Ifá o trouxe de novo ao mundo, com ele mesmo afirmava. Pouco depois, em 1953, ainda em Ketu, Verger foi iniciado como babalaô, sacerdote de Ifá, o dono do destino e da adivinhação. Na Bahia, recebeu outros títulos como Oju Oba (o olho do Rei) e Essa Ele Mesho. Verger acreditava que a vibração e a alegria do povo baiano vinham do Candomblé, cujos cultos de Mãe Senhora freqüentou com assiduidade.
"O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade das pessoas. Onde se pode ser verdadeiramente como se é, e não o que a sociedade pretende que o cidadão seja"
O antropólogo Verger
Em locais como Porto Novo e Uida, no Benim, Verger teve a impressão de ainda estar na Bahia, quão semelhante eram as cidades formadas pelos descendentes dos escravos libertos que retornaram a África. Verger tornou-se colaborador do Instituto Francês da África Negra (IFAN) e, a principio, tirava fotos de pessoas e as enviava para o instituto. O IFAN não se contentou com os dois mil negativos apresentados como resultado da sua pesquisa fotográfica e solicitou que escrevesse sobre o que tinha visto. A contragosto, ele obedeceu. Depois, acabou encantando-se com o universo da pesquisa e não parou nunca mais. Sua paixão maior, a fotografia, começou a ficar um pouco de lado e os estudos antropológicos e históricos tornaram-se atividade primordial.
Publicou um total de 30 livros e 80 artigos e tornou-se professor da UFBa em 1974, fundando o Museu Afro-Brasileiro, em 1982. Em seus estudos, Verger trabalhou durante décadas a questão das ligações históricas entre os dois lados do Atlântico, com todas as suas implicações econômicas, políticas, históricas, religiosas e humanas. A partir de 1980, ficou mais preso à Bahia, viajando muito pouco e trabalhando em seus escritos. Fortaleceu também os laços de amizade com personagens como Jorge Amado e Carybé, que, após a morte de Verger, tornou-se presidente de sua fundação. As outras publicações do antropólogo e etnólogo abrangem temas como documentação fotográfica, história das relações entre a África e o Brasil - influências mútuas, artes, religiões tradicionais africanas e brasileiras (incluindo aspectos de transe), trabalhos de caráter sociológico, tradições orais, processos de transmissão oral, literatura oral, adivinhação, etnobotânica; e publicações com teor autobiográfico.
“Reconheço com prazer que negligenciei freqüentemente o lado estético em prol da espontaneidade das expressões e cenas a captar”
Um Olhar Viajante de Pierre Fatumbi Verger
Em locais como Porto Novo e Uida, no Benim, Verger teve a impressão de ainda estar na Bahia, quão semelhante eram as cidades formadas pelos descendentes dos escravos libertos que retornaram a África. Verger tornou-se colaborador do Instituto Francês da África Negra (IFAN) e, a principio, tirava fotos de pessoas e as enviava para o instituto. O IFAN não se contentou com os dois mil negativos apresentados como resultado da sua pesquisa fotográfica e solicitou que escrevesse sobre o que tinha visto. A contragosto, ele obedeceu. Depois, acabou encantando-se com o universo da pesquisa e não parou nunca mais. Sua paixão maior, a fotografia, começou a ficar um pouco de lado e os estudos antropológicos e históricos tornaram-se atividade primordial.
Publicou um total de 30 livros e 80 artigos e tornou-se professor da UFBa em 1974, fundando o Museu Afro-Brasileiro, em 1982. Em seus estudos, Verger trabalhou durante décadas a questão das ligações históricas entre os dois lados do Atlântico, com todas as suas implicações econômicas, políticas, históricas, religiosas e humanas. A partir de 1980, ficou mais preso à Bahia, viajando muito pouco e trabalhando em seus escritos. Fortaleceu também os laços de amizade com personagens como Jorge Amado e Carybé, que, após a morte de Verger, tornou-se presidente de sua fundação. As outras publicações do antropólogo e etnólogo abrangem temas como documentação fotográfica, história das relações entre a África e o Brasil - influências mútuas, artes, religiões tradicionais africanas e brasileiras (incluindo aspectos de transe), trabalhos de caráter sociológico, tradições orais, processos de transmissão oral, literatura oral, adivinhação, etnobotânica; e publicações com teor autobiográfico.
“Reconheço com prazer que negligenciei freqüentemente o lado estético em prol da espontaneidade das expressões e cenas a captar”

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