Joaquim Maria Machado de Assis (
Rio de Janeiro,
21 de junho de
1839 — Rio de Janeiro,
29 de setembro de
1908) foi um
romancista,
contista,
poeta e
teatrólogo brasileiro, considerado um dos mais importantes nomes da
literatura desse país e identificado, pelo crítico
Harold Bloom, como o maior escritor afro-descendente de todos os tempos.
Sua vasta obra inclui também
crítica literária. É considerado um dos criadores da
crônica no país, além de ser importante
tradutor, vertendo para o
português obras como
Os Trabalhadores do Mar, de
Victor Hugo e o poema
O Corvo, de
Edgar Allan Poe. Foi também um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, também chamada de Casa de Machado de Assis.
Índice[
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1 Biografia2 Estilo literário3 Machado de Assis e o xadrez4 Representações na cultura5 Obra5.1 Romance5.2 Poesia5.3 Livros de contos5.3.1 Alguns contos5.4 Teatro6 Academia Brasileira de Letras7 Referências8 Ligações externasBiografiaFilho do
mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de
escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira
portuguesa da
Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era
canhoto [1], passou a
infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador
Bento Barroso Pereira, na
Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil,
epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não freqüentou
escola regular, mas, em
1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com
professores e
alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora
francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance
Os Trabalhadores do Mar, de
Victor Hugo, na juventude.
Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como
O Corvo, de
Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou
alemão, sempre como
autodidata.
Machado de Assis De origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista
Manuel Antônio de Almeida. Em
1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista
José de Alencar, principal escritor da
época.
Em
1864 estréia em livro, com Crisálidas (poemas). Em
1869, casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos mais velha do que ele. Em
1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.
Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter
romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras:
Ressurreição (
1872),
A Mão e a Luva (
1874),
Helena (
1876), e
Iaiá Garcia (
1878), além das coletâneas de contos
Contos Fluminenses (
1870), ,
Histórias da Meia Noite (
1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (
1864), Falenas (1870), Americanas (
1875), e das peças Os Deuses de Casaca (
1866), O Protocolo (
1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).
Em
1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publica
Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do
realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de todas as escolas, criando uma obra única.
Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881),
Quincas Borba (
1892),
Dom Casmurro (
1900),
Esaú e Jacó (
1904),
Memorial de Aires (
1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (
1882),
Várias Histórias (
1896), Páginas Recolhidas (
1906),
Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em
29 de setembro de
1908, em sua velha casa no bairro carioca do
Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como
Mário de Alencar,
Euclides da Cunha e Astrogildo Pereira (ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores), ficcionalmente o tema da morte de Machado de Assis foi revisto por
Haroldo Maranhão.
Estilo literárioÉ considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores escritores do mundo, enquanto romancista e contista. Suas crônicas não têm o mesmo brilho e seus poemas têm uma diferença curiosa com o restante de sua produção: ao passo que na prosa Machado é contido e elegante, seus poemas são algumas vezes chocantes na crueza dos termos -- similar talvez à de
Augusto dos Anjos.
O crítico norte-americano
Harold Bloom considera Machado de Assis um dos 100 maiores gênios da literatura de todos os tempos (chegando ao ponto de considerá-lo o melhor escritor negro da literatura ocidental), ao lado de clássicos como
Dante,
Shakespeare e
Cervantes. A obra de Machado de Assis vem sendo estudada por críticos de vários países do mundo, entre eles, Giusepe Alpi (
Itália), Lourdes Andreassi (
Portugal), Albert Bagby Jr. (
Estados Unidos da América), Abel Barros Baptista (Portugal), Hennio Morgan Birchal (Brasil), Edoardo Bizzarri (Itália), Jean-Michel Massa (
França),
Helen Caldwell (Estados Unidos da América), John Gledson (
Inglaterra), Adrien Delpech (França), Albert Dessau (
Alemanha), Paul Dixon (Estados Unidos da América), Keith Ellis (Estados Unidos da América), Edith Fowke (
Canadá),
Anatole France (França), Richard Graham (Estados Unidos da América), Pierre Hourcade (França), David Jackson (Estados Unidos da América), Linda Murphy Kelley (Estados Unidos da América), John C. Kinnear, Alfred Mac Adam (Estados Unidos da América), Victor Orban (França), Houwens Post (Itália), Samuel Putnam (Estados Unidos da América), John Hyde Schmitt, Tony Tanner (Inglaterra), Jack E. Tomlins (Estados Unidos da América), Carmelo Virgillo (Estados Unidos da América), Dieter Woll (Alemanha) e
Susan Sontag (Estados Unidos da América).
O
estilo literário de Machado de Assis tem inspirado muitos escritores brasileiros ao longo do tempo e sua obra tem sido adaptada para a
televisão, o
teatro e o
cinema. Em
1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes. Suas principais obras foram traduzidas para diversos idiomas e grandes escritores contemporâneos como
Salman Rushdie, Cabrera Infante e
Carlos Fuentes confessam serem fãs de sua
ficção, como também o confessou
Woody Allen. A
Academia Brasileira de Letras criou o
Espaço Machado de Assis, com informações sobre a vida e a obra do escritor.
Machado em suas obras interpela o leitor, ultrapassando a chamada
quarta parede, nisso tendo sido influenciado por
Manuel Antonio de Almeida, que já havia utilizado a técnica, bem como
Miguel de Cervantes, e outros autores, mas nenhum deles com tanta ênfase quanto Machado.